terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Pressão alta

Sai hoje a notícia de que Gabriel Medina não vai participar nas primeiras etapas do Circuito Mundial de Surf. Ele que é o atual campeão e o maior rosto da modalidade, a par de Kelly Slater. Mais um sinal de alerta. De mais um campeoníssimo.

Recuemos até 2009. Robert Enke suicidava-se, fim trágico para uma luta diária contra a depressão. Para os mais distraídos, o alerta estava dado. Um jogador de futebol, internacional pelo seu país, a viver uma fase próspera do ponto de vista desportivo. Rapidamente esquecemos e seguimos como se nada fosse. Daí para cá, e sem recorrer ao Google, recordo-me dos casos de Buffon, Iniesta, Bellamy, Ilicic (em dose dupla) e do nosso André Gomes, sendo que estes dois últimos foram, do que me recordo, aqueles que abordaram o tema “no presente” e não anos e anos depois, em modo recordações de carreira.

Não é exclusivo de atletas de topo, que lidam com os holofotes dia sim dia sim. Temos o exemplo de Juan San Martin, que joga no Esperança de Lagos, no Campeonato de Portugal, a atual 4ª divisão do futebol nacional. Nem muito menos do futebol. Gabriel Medina (foi por aí que começámos a conversa), Michael Phelps, Frederico Gil, Simon Biles. A lista continua. E não faltará muito até que os treinadores comecem a revelar os mesmos sintomas ou a recordar histórias semelhantes.

Se é preocupante esta questão da depressão, a dificuldade dos atletas, no ativo ou mesmo depois, manifestarem a sua homossexualidade roça o pré-histórico. 2021 foi o ano em que, pela primeira vez, um futebolista no ativo admitiu, quase como se fosse culpado, a sua homossexualidade. Não tenho dúvidas que muito destes problemas derivam da pressão a que os atletas estão e são sujeitos. E nem sempre esta pressão é puramente desportiva, no sentido da obtenção de resultados. A necessidade de ser, e de parecer ser, perfeito, o escrutínio constante de que são alvo, a necessidade de evitar dar “argumentos” a muitos dos irracionais que pululam em torno do fenómeno desportivo.

Onde é que isto nos toca à porta? Toca porque, grosso modo, todos somos, direta ou indiretamente, intervenientes no processo de formação dos atletas, independentemente da modalidade. Seja como treinadores, como familiares, como colegas, como amigos. Temos, portanto, a responsabilidade de ajudar a que a formação seja, realmente, completa. Temos a responsabilidade para alertar, no mínimo, para a necessidade de compreender, trabalhar e treinar a “parte psicológica”, à falta de melhor expressão, dos atletas. E, como treinadores, temos a obrigação de o fazer, todos os dias e em todas as situações. É tão errado colocar uma pressão desmedida nos atletas como retirar toda a pressão aos mesmos. Algures existe um equilíbrio, que ainda por cima é dinâmico e individual, que o treinador tem de tentar que o atleta atinja. Para que este saiba como lidar com os extremos da frustração e da alegria.

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